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  • Foto do escritorby Naty Gui

Nem tudo é o que parece - Depressão

Olá gente, tudo bem???

Trouxe hoje um tema bastante falado ultimamente, mas que ainda é tabu, pois as pessoas ainda não vêem a depressão como uma doença.

Demorei muito tempo (leia-se mêses, ou melhor, já deve ter 1 ano) pra escrever esse post, não sabia por onde começar, nem o que dizer, afinal eu não sou especialista no tema para dissertar cientificamente, mas posso falar da minha experiência desde que descobri que sofro desta doença - sim, a depressão é um doença!

Eu resolvi trazer esse assunto hoje, logo após a tragédia da morte do ator português Pedro Lima que aparentemente cometeu suicídio, o que nos mostra que a depressão não tem cara, ela está onde menos se espera...

Ainda vivia no Brasil (2012), quando uma amiga me alertou, dizendo com muito carinho, que eu poderia ter depressão. Ela viu muito da irmã que sofria da doença em mim e foi muito maravilhosa em ter uma conversa aberta sobre isto comigo e inclusive me sugeriu uma consulta com o psiquiatra que acompanhava a irmã.

Caramba, nem sei dizer o que senti na época! Fiquei um pouco assustada por que não achava que isto se encaixava em mim. Logo eu que estava sempre bem disposta, saía muito, estava sempre rodeada de amigos, frequentava o gym, cuidava de mim. E a ideia de uma pessoa com depressão é o oposto disto né?!! Mas ninguém sabia o que eu levava no meu íntimo e como eu me sentia quando estava sozinha, era um eterno vazio, nada me preenchia, e foi em conversas que a minha amiga percebeu o que se passava comigo. Eu achava que festas, noites, compras e mais compras era o que eu precisava, e eu estava apenas a tentar fechar um buraco que havia dentro de mim...e a minha amiga viu isto!

Pois fomos ao médico, e para a minha surpresa fui diagnosticada sim com depressão e depois de algum tempo iniciei um tratamento com medicação e terapia.

Estava tudo a correr bem, até que com as voltas que esse mundo dá (e as escolhas que a gente faz) eu fui parar no Equador, e comecei a minha vida lá do zero, foi tudo muito intenso. Com isto o meu tratamento foi deixado de lado, e eu vivi o pior lado da doença. Sozinha num país novo, aprendendo o idioma, sem conhecer ninguém, não tinha nada a que me agarrar e aquele vazio tomou conta de mim. A vida fútil de antes já não existia mais, e para o bem e para o mal eu tive de aprender a lidar com isto e passei a sobreviver.

Sabendo que não poderia lutar com isto sozinha, depois de muito hesitar, falei com a minha mãe e com a sua ajuda mesmo a distância eu procurei ajuda médica. Iniciei novamente o tratamento com medicação e sessões de terapia. Ao princípio eu tinha 3 sessões semanais tão grave estava o meu quadro, aquilo era como segurar na pontinha duma corda a beira do precipício.

Sem dúvidas a terapia foi essencial para mim nesta fase, só medicação não era (não é) suficiente! Pude descobrir muitas coisas que estavam escondidas dentro de mim, e também praticava o meu espanhol que era um horror, imaginem que loucura era essa terapia né. Foi muito difícil conseguir expressar tudo o que eu sentia em outro idioma, e para quem tem em depressão isso pode muitas vezes afugentar a gente de querer se tratar, mas eu não desisti.

Eu segui firme pois a partir daí tudo começou a mudar e eu comecei a ver as coisas de outra perspectiva, ver que muito do que eu sentia não era culpa minha, me foi inserido pela história da qual eu vivenciei, e muito mais que isto, eu comecei a acreditar que a minha vida podia ser muito melhor do que foi algum dia.

O Equador para mim foi uma escola da vida, em todos os aspectos, pessoal, profissional e desportivo. Foi lá que descobri as maravilhas do triathlon, foi onde iniciei a jornada que mudou a minha vida por completo.

Contei isto tudo para dizer que a depressão pra mim é assim, há días em que as atividades que eu executo normalmente custam muito mais. É uma batalha mental antes de fazer tudo (vou ou não vou, devo ou não devo fazer), um cansaço físico e mental fora do comum, tristeza "sem motivo", vontade de me isolar, ansiedade, taquicardia, pessimismo, e uma falta de paciência e necessidade de controlo de tudo!!!

Mas quase ninguém nota isto, só quem convive mais de perto, afinal a gente espera que uma pessoa deprimida esteja chorando, com mal aspecto e cheia de olheiras, o oposto do que acontece comigo pois eu estou sempre a sorrir e a brincar com todos, o instagram está sempre a bombar, mas só eu sei o que vai la dentro de mim.

Mas como eu ia dizendo, o triathlon funciona para mim como um grande motivador para sair desse ciclo de dor e medo. Para mim o triathlon salvou (e ainda salva) a minha vida todos os dias (leia qualidade de vida)!!!

Sabendo que para fazer provas é necessário uma rotina de treinos que exige uma disciplina enorme com horas e horas em cima duma bicicleta, muita corrida e uma dedicação enorme à natação eu inconscientemente vi nesta disciplina um escape da dor.

Foi lá no Equador que eu percebi o quanto essa rotina me ajudava (ou me anestesiava), o quanto eu voltava sempre mais leve depois dos treinos longos, depois das horas em cima da bicicleta e aquela sensação de dever cumprido me deixava orgulhosa de mim. A galera, os percursos, as aventuras e experiências vividas, o estar comigo mesma e colocar em ordem os pensamentos, ou simplesmente não pensar em nada e só sentir a dor nas pernas, tudo isto só ajudou nos momentos mais difíceis.

Sem contar a satisfação pessoal, cada vez que eu saía da cama e ia treinar era uma vitória. Conseguir cumprir cada treino foi e é até hoje uma vitória. E naqueles dias que parecem ser impossíveis pra mexer o corpo, eu me lembro em como me sinto depois de uma corrida e vou, sem pensar muito, só me levanto e vou. Aí quando me perguntam como eu consigo treinar tanto eu só sorrio, mas respondo pra mim mesma que é por que me faz bem, salva os meus dias todos os dias.

Mas atenção, o triathlon ou qualquer outra atividade seja ela meditação, ioga, etc, não substitui tratamento. Eu só consigo pensar desta forma, e ter essa atitude por que por trás vem um trabalho profissional que me guia e me ajuda a criar a minha estabilidade emocional.

A depressão ela pode ir e vir ou se instalar permanentemente. Ter uma rede de apoio é fundamental para o controlo da doença. Quando não temos é um agravante, mas não é o fim do mundo! Você pode sair dessa! Se você tem depressão, por favor busque ajuda, fale com alguém próximo. Se você conhece alguém e desconfia que essa pessoa esteja deprimida, tente ajudar, converse, esteja presente, há muitas formas de ajudar.

Isto é um resumo de como descobri a doença, sobre o tratamento e como o triathlon me ajuda todos os dias. Falando parece que foi tudo muito simples, mas foi e continua sendo uma batalha diária da qual eu me recuso a perder. Sei que dias ruins virão, mas eu tenho todas as armas para lutar e uma grande vontade de viver, de ser extraordinária, de ajudar aos outros e conquistar o topo da minha montanha.

Depois de um longo período sem terapia, apenas fazendo medicação, retomei as sessões com o Jorge Boim e levo alguns mêses fazendo um trabalho incrível de auto descoberta, aceitação, perdão, amor próprio que está por me trazer um mundo maravilhoso cheio de cor e esperança. Estou plantando todos os dias os frutos que ei de colher muito em breve, e estou muito feliz por tudo o que isto tem trazido à minha vida, desde oportunidades à pessoas incríveis! Clique aqui e conheça o seu trabalho.

Agora sem romantizar a doença a minha intenção é demonstrar pela minha experiência que a depressão não é o fim da linha e é preciso falar abertamente e deixar os tabus de lado. Eu resolvi me abrir pois sei que muita gente sofre do mesmo e não tem coragem de falar sobre isto. Eu encontrei a minha forma de lutar contra essa doença mas cada um tem o seu tempo e a sua forma. É como na nutrição, o que é bom para uma pessoa não necessariamente será bom para outra. O importante é que você peça/busque ajuda! Dá-te essa oportunidade e seja luz na sua própria vida.

Deixo aqui o link da Sos Voz Amiga - A SOS VOZ AMIGA é uma linha de apoio emocional que se disponibiliza a ajudar todos aqueles que se encontram em situações de sofrimento causadas pela solidão, ansiedade, depressão ou risco de suicídio. Clique aqui!

Com carinho,

Naty


Como vocês podem ver, a depressão não tem cara, ela está escondida por trás de bom humor e sorrisos.



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