Vocês acreditam que não tenho nenhuma foto do ciclismo? Quer dizer, ter tem, mas tem que comprar, e eu gastei todo o meu dinheirinho na feirinha da prova hahaha, então vai com a do bike check in mesmo!!
Fiz uma transição de 10’ com calma para não esquecer nada, peguei o meu pão de Deus e saí para pedalar mega feliz pela minha natação!! Os primeiros kms foram com a cadência alta para o corpo esquentar, e até o final do guincho fui preparando a minha mente para tudo o que eu deveria fazer, e não falhar na nutrição.
O meu plano foi a cada 15min “comer”, no caso tomar o meu preparado, e as vezes alternar com barras, e água entre estes 15’, e uma capsula de Anti-Fatigue Caps a cada hora, para chegar com as pernas boas para a corrida. Mas a nutrição eu vou falar a parte por que foi a cereja no topo do bolo! Já na Malveira sentia a corrente seca, deveria ter colocado óleo de manhã mas esqueci-me. Mas a mente foi bem treinada e solucionei tudo muito rápido “paro na assistência e meto óleo “- não parei
Subi a primeira parte da serra muito tranquila, minha estratégia sempre foi não ir à morte por mais que me sentisse bem.
Eis que a minha bexiga deu sinal de vida (foda-seeeee, já??). Fui ignorando, até que a Filipa passa por mim e disse que estava a rasca pra fazer xixi . Senti alivio e desespero por que não era só eu, e por que lembrei que também estava. Ignorei e segui.
Pois bem, chego ao primeiro abastecimento, jogo o meu bidon de água fora e eis que me dão uma garrafa de plástico com a água. Mano eu dei um berro “quessa merda?” Kkk tive que parar pra conseguir enfiar o negócio no porta bidon. Ou seja, mais uma coisa para resolver rápido e siga (mente preparada).
Foi muito estranho descer para a Malveira do lado oposto da estrada, fiquei apreensiva e desci com as mãos nos travões. Na verdade eu sempre fui uma cagona nas descidas, se não conheço o alcatrão não arrisco!
Segunda parte da serra foi tranquila e até o autódromo tudo ok. 15’ em 15’ funcionando bem, já conseguia meter a garrafa d’água no negócio do bidon. Cheguei ao autódromo e que seca! Não gosto dessa voltinha (só para registo). Quando entramos na pista ainda brinquei com um gajo como se fôssemos largar pra uma corrida - Pi, pi, pi, vrummmmm - demos risada simbora.
Saí do autódromo pensando em parar para o xixi, mas não querendo por que tinha que tirar o colete (sim, levei colete ora levar monte de comida que não comi) e trisuit, mas ignorei e segui em direção à marginal. Quando passo em frente ao Casino encontro a maior festa da galera do Estoril Praia! Wow que gente maravilhosa, dava vontade de ficar ali fazendo festa e depois no retorno já em Cascais, outra festa da galera, que sensacional!!!! A imagem que ficou ali era de uns branquelas a tomar sol de biquini na relvinha do Auchan .
Segui rumo a Algés, ventinho nas costas, a corrente nessa altura já estava miando, e eu comecei a me sentir cheia, acho que tava comendo demais, senti desconforto em tudo! Antes de fazer o retorno vi que havia assistência mecânica e resolvi parar. Foi que nem pit stop de Fórmula 1 (pá pum)
Não sei por que falei em espanhol com o gajo que la estava hahahahaahha mas falei: “oye, tienes aceite?” O gajo “si”
Nem saí da bike, ele ja melecou a corrente com o óleo, subi na bike e: “gracias, hasta pronto” AHHAHAHAAAHAHHAAHHAHAHAHAHAHAAHHAAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
Que alívio eu senti nas pernas! Daí pra frente tudo correu melhor! Também resolvi parar de comer e ficar só pela nutrição liquida e água. Fui indo, fiz aquela voltinha chata de Carcavelos, e fui cada vez me sentindo melhor, mas a bexiga estourando!! Imagina só, nutrição toda líquida, posição aero na bike, por que raios eu estava segurando xixi? Por que tava com preguiça de tirar a roupa, aff
Cheguei a Cascais, a primeira volta ja estava. Vez em quando eu pensava no que falta, e que ainda tinha que correr. Mas rapidamente apagava isso da mente para focar no presente e ficar feliz de estar vivendo o meu sonho!!! Dava muito certo isso… e então começava a cantarolar. Mas não conseguia lembrar da letra de NENHUMA MÚSICA!!! Só saiam ruídos, que nervo. Entretanto um refrão me acompanhou o ciclismo inteiro!!! A música da Sia, Unstoppable:
I’m unstoppable
I'm a Porsche with no brakes
I'm invincible
Yeah, I win every single game
I'm so powerfull
I don't need batteries to play
I'm so confident
Yeah, I'm unstoppable today
- caraca mano, que arrepio me da essa musica!
Antes de chegar no Guincho encontro o meu namorado me esperando. Passei tão rápido, mas o vi e isso me encheu de energia. É tão bom, mas tão bom ter alguém apoiando e torcendo como eu tive o Henrique comigo nessa jornada
Segunda ida a serra, comecei a sentir um calorzinho, medo! Eu tenho um histórico de desidratação e cãibras em provas que eu morro de medo, ao menor sinal de transpiração eu já fico apreensiva. Mas eu estudei TANTO a minha nutrição. Coloquei bastante Endurolytes Extreme Powder by Hammer Nutrition nos meus bidons, e estava bebendo bastante água (oi xixi?) eu só podia confiar!!!
Por falar em xixi, nada! Até agora sem fazer nem parar para fazer!
Subi a Malveira com a cadência de sempre, alta, consistente, concentrada na respiração! Subi aquilo num instante e fui focada para a Lagoa Azul até a placa do km 120! Já na primeira volta eu vi essa placa e mentalizei chegar ali bem. Foi dito e feito! Quando saí da serra eu pensei, agora é só a rolar, mantei a nutrição, e curtir! Desci rumo ao autódromo (saco), marginal, estoril, retorno em cascais (weeee) e bora para os últimos 40 e tais kms!
Já nem olhava abastecimentos ou o relógio, eu estava impressionada como eu estava a ter paciência de estar tantas horas em cima da bike, praticamente sem parar por mais de 6 horas! Em treinos esse era o meu maior desafio, pois eu sempre encontrava uma desculpa para parar e pensava “como é que eu vou fazer saporra?” Olha, eu estava tão concentrada na estratégia que o Jorge Boim me ajudou a montar de foco no presente, e na nutrição que não fiquei agoniada em momento algum. Muito me perguntaram no que eu pensava, e a resposta é, no presente! Eu pensava que estava vivendo o meu sonho, era como se eu nunca tivesse pedalado nestes lugares, por que era a primeira vez que pedalava ali vivendo o meu sonho.
Claro que lembrei muito da minha familia, dos meus amigos, do meu amor, até da Jessie, e me dava um quentinho tão grande no coração. Lembrei dos meus treinadores desde que comecei o triatlo la no equador com a Karina Navarrete, que foi uma mãe, me ajudou imenso dentro e fora do triatlo. Depois o Nuno Barradas aqui em Portugal que me recebeu de braços abertos no Wikaboo. A seguir o Pedro Quintela, que tinha uma paciência de Jó comigo haha, passando pelo Hugo Ribeiro que me ensinou a competir, e de agora em diante o top dos tops Sérgio Dias, da Ontrisports (que honra) que me conduziu no meu maior desafio até agora!
Por fim chego a Cascais e tudo o que eu penso é xixi e casa de banho. Desci a reta do Hipódromo voaaando hahaha, me descalcei, pulei da bike (pulei não né, desci) e fui correndo pro xixi. A meio ja ia esquecendo de dar Lap no relógio. Joguei a bike no chão, me despi fora da casa de banho mesmo, prendi a respiração e …. Ahhhhhhhhh que alívio!
Eu só pensava, pra que segurei tanto esse xixi hahaha
Fui fazer a minha transição, sem vontade nenhuma para o que vinha. Minha amiga Elaine Wei Wei chegou junto comigo (na verdade pedalamos juntas, respeitando a distância para não fazermos drafiting) e fizemos a nossa transição com calma e rindo muito do empeno que iamos levar haha. Terminei um pouquinho antes dela, na verdade era só tirar o colete (que estava cheio de comida que não comi), calçar os ténis, trocar os óculos, encher os bolsos de géis e sair calmamente, caminhando até o início da corrida!
